quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Quando menos vale mais (A regra três de Fabio Barros)

Fábio Barros (compositor) explora sonoridades de instrumentos tradicionais e aposta na economia sonora em seu novo disco “Enquanto eu caminhava”. 

                        Por Carlos Dalla

Inicio o texto relatando uma verdadeira “gafe” cometida pelo jornalista que vos escreve, mas que acabou traduzindo um pouco da proposta do novo trabalho do compositor paulistano Fabio Barros. Quando iniciei uma das perguntas com a afirmação apressada da existência de sonoridades eletroacústicas no novo trabalho, a resposta de Fabio foi reveladora: “então, acho curiosa e fico feliz com essa sua afirmação, pois significa que atingimos o resultado desejado. Ao contrário, o disco tem quase nada de eletrônico. Com raras exceções, é tudo tocado. Desde o inicio essa era nossa proposta, tirar sons diferentes dos instrumentos comuns. Se você reparar bem, viola de cocho, viola caipira e violão de 7 cordas, são instrumentos da música tradicional brasileira assim como zabumba e caixa do divino.

            Desse modo um tanto inusitado, e algo constrangedor, compreendi que uma das características de “Enquanto eu caminhava” é a exploração com os timbres originais de instrumentos tradicionais, criando ambiências pautadas pela economia de sons e ruídos, mas ao mesmo tempo por uma comovente maturidade e clareza na forma de expressar a canção.

            Aliás, Fabio aponta a maturidade artística desenvolvida desde o trabalho anterior “Circo de Pulgas”, como uma das principais forças presentes no resultado deste segundo disco. A base dos músicos ficou restrita a três integrantes, fazendo com que os arranjos contribuam de forma incrível para uma experiência de escuta onde todos os elementos podem ser ouvidos e apreciados em sua integridade. A sensação que fica é a de que é possível perceber com maior nitidez os diálogos e as interações entre os sons, e também entre os próprios músicos.

Quando perguntado sobre suas referências, Fabio disse que tem procurado ouvir compositores de várias partes do mundo, como os portugueses Mario Laginha e Maria João, a francesa Camille e o chinês Mamer, mas reconhece que a música brasileira continua sendo a referência fundamental. Ele ainda adianta que já possui um novo projeto 100% composto, em que pretende mostrar composições de caráter instrumental, que também fazem parte de seu repertório, mas que até hoje não tiveram a oportunidade de serem comunicadas ao público.

            O lançamento de “Enquanto eu caminhava” ocorrerá no show que o artista fará em conjunto com os grupos Axial, Projeto B e Manu Maltez e Grupo Cardume, na 10ª edição da mostra itinerante de música independente Mó! Movimentação Musical. O evento será no Auditório do Ibirapuera, no dia 11 de Outubro. Fabio, que é um dos idealizadores da mostra, ressalta que o espírito de união e cooperação não acontece apenas em função do evento, e que pelo contrário, este é mais uma conseqüência do que a causa da proximidade entre eles:antes do Mó! éramos amigos e já arriscávamos alguns projetos juntos, sempre se ajudando. Por exemplo, O Yvo (Ursini, guitarrista do Projeto B) produziu e mixou o disco novo do Manu Maltez, que por sua vez gravou os baixos aqui no meu estúdio. Tudo na camaradagem, tudo pra ver um trabalho que agente admira realizado. Da mesma forma o Yvo, o Manu e o Amílcar (Rodrigues, trompetista do Projeto B) participaram do meu disco”.

            Ao ser questionado sobre as perspectivas para a música autoral no Brasil, Fabio se mostrou otimista, enxergando um cenário de renovação e desenvolvimento na cena independente, onde para ele as possibilidades de experimentação e invenção possibilitam a criação de conteúdos genuínos, que abordem as questões de nosso tempo de forma criativa e construtiva. Ele cita alguns compositores como o mineiro Kristoff Silva, Rafael Barreto, Rodrigo Campos e o grupo Dona Zica como exemplos de artistas que têm contribuído para o fortalecimento da música de invenção no Brasil. 

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