sábado, 19 de setembro de 2009

A revelação de Manu Maltez

Compositor paulistano lança seu segundo álbum “Esse cavalo morto no jardim”, no Mó! Movimentação Musical, que acontece em Outubro no Auditório Ibirapuera.

Por Carlos Dalla

A busca pela diluição de parâmetros estéticos padronizados, pela interação entre diferentes linguagens artísticas, por uma poética que seja capaz de revelar o universo da criação para além de gêneros e disciplinas, aproximando o artista de si mesmo, e por conseqüência, dos outros que estão lá fora, aguardando para escutarem o resultado de quem foi lá dentro pescar impressões e imagens sonoras da cidade, de seus anjos e seus urubus.

            E assim Manu Maltez vai vivendo, apurando, construindo uma caminhada artística que já lhe rendeu parcerias na literatura, com Marcelino Freire, nas artes visuais, com o poeta performático Miró da Muribeca, e na música, com os outros grupos que formam o Mó! Movimentação Musical, evento que acontece no próximo dia 11 de Outubro, no Auditório do Ibirapuera, e que  promete dar uma boa mostra do que vêm se fazendo na cidade de São Paulo em termos de criação autoral e independente.

            Prestes a lançar seu segundo disco, Manu cedeu uma entrevista onde falou sobre os caminhos percorridos desde o primeiro lançamento, “As neves do Kilimanjaro”, em 2006: “a gente vai aprendendo a dizer aquilo que quer sem mais rodeios, sem medo. Acho que o primeiro disco teve que sair assim, mais comportado, para que esse segundo pudesse vir e sapatear em cima dele”.

            Além de músico, ele realiza trabalhos no campo das artes gráficas. Seus desenhos em nanquim já foram expostos em lugares importantes como nas unidades do Sesc em Interlagos, Ipiranga e Pinheiros, além do espaço cultural do Citibank, ente outros. A produção em diferentes campos artísticos lhe permite uma vivência dialógica e relacional dos processos criativos em ambas as áreas, e os caminhos entre o fazer musical e o desenho vão se cruzando, influenciando um ao outro, possibilitando uma produção cada vez mais particular e original: “hoje vejo que dá pra levar várias lições aprendidas em uma área para a outra. Percebi, por exemplo, que meus desenhos e gravuras estavam ficando de certa forma mais densos e intensos do que as músicas, e procurei trazer isso também para elas. Em outros momentos, a abstração das músicas, a liberdade de formas, me desprende bastante na hora de desenhar”.

            Por falar nisso, a música de abertura do novo disco foi construída com base em uma série de gravuras que Manu criou e expôs em 2008 no Centro Cultural B_Arco, intitulada “Anjos e Urubus”. A sensação que se tem ao ouvi-la é de uma originalidade desconcertante, que pode confundir aqueles acostumados a balizar sua escuta em formas e gêneros pré-concebidos. Por outro lado, o resultado de “Esse cavalo morto no jardim” (nome do trabalho) certamente instigará aqueles que buscam se desprender desse tipo de escuta. Várias referências podem ser identificadas, mas o que a música de Manu Maltez pede é justamente que nos abstenhamos de julgar o que ouvimos... que sejamos capazes de desenvolver uma escuta mais livre, porque desperta para a necessidade de percebermos e vivenciarmos de forma múltipla e sensível os sons que nos chegam e despertam.  

Os temas urbanos permeiam as letras, que buscam traduzir as imagens vividas e sentidas no cotidiano da metrópole: “a cidade que existe em nossa imaginação e a real, em que vivemos, se misturam, e não sei onde começa uma e acaba a outra. Não tem saída. Acho que isso é ser cidadão”. Um bom exemplo de como essa temática é explorada está na música “As papelarias do Itaim”. No disco há também uma homenagem a Michael Jackson, feita já há alguns anos, e programada para entrar no disco pouco antes da morte do artista. A música, chamada “Mané Jackson”, é livremente inspirada em “Billie Jean”, clássico do disco “Thriller”, e revela a influência da música pop no trabalho de Manu. Revela ainda uma conexão inusitada entre os dois artistas: “Mané Jackson” era meu apelido quando moleque, por refazer assim, apaixonadamente, aqueles passos de dança”.

Na insistência do jornalista em tentar enquadrar a proposta artística do compositor em critérios e parâmetros, a saída de Manu por fim sintetizou de forma muito feliz o próprio trabalho: “acho que uma música tem que ter um conteúdo que extrapola a escolha estética entende? na verdade acho que forma e conteúdo tem que ser a mesma coisa.. é meio caótico mesmo. No final das contas não diria que sejam canções. Como é algo que vai se estruturando aos poucos ganhando formas não pré- determinadas e significados que muitas vezes me surpreendem, diria que elas sejam revelações”.

 Acompanhado do Grupo Cardume, Manu Maltez apresenta e lança o novo trabalho nesta 10ª edição do Mó! Movimentação Musical, onde haverá ainda lançamento do novo disco do compositor e parceiro Fabio Barros. Vale a pena conferir.

 

 


quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Quando menos vale mais (A regra três de Fabio Barros)

Fábio Barros (compositor) explora sonoridades de instrumentos tradicionais e aposta na economia sonora em seu novo disco “Enquanto eu caminhava”. 

                        Por Carlos Dalla

Inicio o texto relatando uma verdadeira “gafe” cometida pelo jornalista que vos escreve, mas que acabou traduzindo um pouco da proposta do novo trabalho do compositor paulistano Fabio Barros. Quando iniciei uma das perguntas com a afirmação apressada da existência de sonoridades eletroacústicas no novo trabalho, a resposta de Fabio foi reveladora: “então, acho curiosa e fico feliz com essa sua afirmação, pois significa que atingimos o resultado desejado. Ao contrário, o disco tem quase nada de eletrônico. Com raras exceções, é tudo tocado. Desde o inicio essa era nossa proposta, tirar sons diferentes dos instrumentos comuns. Se você reparar bem, viola de cocho, viola caipira e violão de 7 cordas, são instrumentos da música tradicional brasileira assim como zabumba e caixa do divino.

            Desse modo um tanto inusitado, e algo constrangedor, compreendi que uma das características de “Enquanto eu caminhava” é a exploração com os timbres originais de instrumentos tradicionais, criando ambiências pautadas pela economia de sons e ruídos, mas ao mesmo tempo por uma comovente maturidade e clareza na forma de expressar a canção.

            Aliás, Fabio aponta a maturidade artística desenvolvida desde o trabalho anterior “Circo de Pulgas”, como uma das principais forças presentes no resultado deste segundo disco. A base dos músicos ficou restrita a três integrantes, fazendo com que os arranjos contribuam de forma incrível para uma experiência de escuta onde todos os elementos podem ser ouvidos e apreciados em sua integridade. A sensação que fica é a de que é possível perceber com maior nitidez os diálogos e as interações entre os sons, e também entre os próprios músicos.

Quando perguntado sobre suas referências, Fabio disse que tem procurado ouvir compositores de várias partes do mundo, como os portugueses Mario Laginha e Maria João, a francesa Camille e o chinês Mamer, mas reconhece que a música brasileira continua sendo a referência fundamental. Ele ainda adianta que já possui um novo projeto 100% composto, em que pretende mostrar composições de caráter instrumental, que também fazem parte de seu repertório, mas que até hoje não tiveram a oportunidade de serem comunicadas ao público.

            O lançamento de “Enquanto eu caminhava” ocorrerá no show que o artista fará em conjunto com os grupos Axial, Projeto B e Manu Maltez e Grupo Cardume, na 10ª edição da mostra itinerante de música independente Mó! Movimentação Musical. O evento será no Auditório do Ibirapuera, no dia 11 de Outubro. Fabio, que é um dos idealizadores da mostra, ressalta que o espírito de união e cooperação não acontece apenas em função do evento, e que pelo contrário, este é mais uma conseqüência do que a causa da proximidade entre eles:antes do Mó! éramos amigos e já arriscávamos alguns projetos juntos, sempre se ajudando. Por exemplo, O Yvo (Ursini, guitarrista do Projeto B) produziu e mixou o disco novo do Manu Maltez, que por sua vez gravou os baixos aqui no meu estúdio. Tudo na camaradagem, tudo pra ver um trabalho que agente admira realizado. Da mesma forma o Yvo, o Manu e o Amílcar (Rodrigues, trompetista do Projeto B) participaram do meu disco”.

            Ao ser questionado sobre as perspectivas para a música autoral no Brasil, Fabio se mostrou otimista, enxergando um cenário de renovação e desenvolvimento na cena independente, onde para ele as possibilidades de experimentação e invenção possibilitam a criação de conteúdos genuínos, que abordem as questões de nosso tempo de forma criativa e construtiva. Ele cita alguns compositores como o mineiro Kristoff Silva, Rafael Barreto, Rodrigo Campos e o grupo Dona Zica como exemplos de artistas que têm contribuído para o fortalecimento da música de invenção no Brasil. 

Projeto B se apresenta na 10ª edição do Mó! Movimentação Musical, e prepara lançamento do novo álbum

Show no Auditório Ibirapuera terá algumas prévias do novo trabalho no repertório.

Por Carlos Dalla

  Caracterizado pela experimentação sonora e pela busca de integração entre linguagens eruditas e populares, o Projeto B prepara seu terceiro trabalho, propondo uma série de releituras da obra de Heitor Villa-Lobos. O grupo é constituído por músicos com sólida formação, mas de forma alguma conformados dentro dos cânones da tradição musical, sempre na busca por resultados que integrem originalidade e inventividade com consistência e pesquisa.

            Por isso, ao proporem revisitar a obra de Villa-Lobos, optaram por um recorte de sua fase mais vanguardista, quando em 1923 esteve na França acompanhando as transformações recentes por que passava a vanguarda musical no país. “Nós escolhemos para o repertório as musicas que Villa compôs nesta época, ou que foram feitas para músicos que ele conheceu nesta viagem”, aponta Yvo Ursini, guitarrista e fundador do grupo, que este ano completa 10 anos de atividades.

            Nesta época, a França voltava seus olhos para a música de Igor Stravinski, que alguns anos antes, em 1913, causou enorme polêmica ao estrear a obra “A Sagração da Primavera” em Paris. A partir de então, sua música passou gradativamente a influenciar toda uma geração de compositores dispostos a encontrar alternativas para o desenvolvimento da linguagem musical da Europa no início do século XX.

            Por isso, além de seis peças de Villa-Lobos e três de autoria própria, o disco terá três faixas com trechos de A Sagração da Primavera completando a lista das músicas. Perguntado sobre que tipo de leitura pretendem imprimir à obra do compositor, Yvo fala que as adaptações do Projeto B buscam inserir elementos das outras referências do grupo, ligadas ao jazz, à música instrumental de invenção, e acima de tudo, à experimentação de situações musicais inusitadas, o que eles chamam de música especulativa.

            O Palco do Mó! Movimentação Musical, que neste ano acontece no Auditório do Ibirapuera no dia 11 de Outubro, será uma boa oportunidade para o grupo mostrar seu repertório, já que Yvo aponta dificuldades para propostas como a do Projeto B circularem pela cidade: “O grupo, ao longo desses 10 anos, esteve nos principais palcos para a música instrumental, mas eles não são suficientes. A cena instrumental depende muito da formação de público, e este sempre tem de ser um dos focos”.

            Mas Yvo adianta que, para não estragar a festa antes da hora, apenas uma parte do repertório do novo disco será executada na apresentação da mostra, já que o disco, que já tem título, “A viagem de Villa-Lobos”, será lançado em Novembro, mês que marca os 50 anos da morte do compositor.    


segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Ingressos antecipados já estão à venda

Ingressos antecipados na bilheteria do Auditório Ibirapuera ou na Ticketmaster
A venda na bilheteria ou:
www.ticketmaster.com.br | (11) 2846-6000

quarta-feira, 1 de julho de 2009

O Mó! chega a sua 10º edição no Auditório Ibirapuera.

Mostra musical itinerante revela produção atual de uma cena musical paulistana. Apresentando novos discos, shows inéditos e lançamento do selo, Projeto B, Axial, Manu Maltez e grupo Cardume e Fábio Barros comemoram em outubro a décima edição do projeto iniciado em 2006.

O Mó! – Movimentação Musical, criado há quatro anos, chega à sua décima edição. Na forma de uma mostra de arte itinerante, o projeto vem criando uma nova cena para a música paulistana e ocupando diversos circuitos de arte na cidade. São grupos e artistas que mantém constante diálogo e colaboração mútua, criando uma música contemporânea livre, longe dos modismos, sem fronteiras e gêneros definidos, que transitam pelo erudito e o popular, o instrumental, a canção, a musica eletrônica e também pela literatura, as artes visuais e o teatro.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Um pouco de outras edições

Da primeira apresentação do Mó!, no Alto da Boa Vista, em 2006, até a atual edição, a movimentação cresceu e conseguiu manter uma média de três ediçoes por ano. Ao longo de quatro anos, o Mó! passou por diversos lugares como o MIS, teatro Brincante, SESC e Teatro Santa Cruz, antes de ter como parceiro o Centro Cultural b_arco, onde foram realizadas as três últimas edições da movimentação. Já participaram se apresentando ou em bate papos abertos ao público diversos grupos e artistas como a cantora Fabianna Cozza, o pianista e produtor Benjamim Taubkin, o maestro Julio Medaglia, o escritor Marcelino Freire, o grupo AXIAL, a atriz Georgette Fadel, o percussionista Caíto Marcondes, o crítico e jornalista João Marcos Coelho, a compositora Alzira E, o violonista e compositor Chico Saraiva, o instrumental do Armazém Abaporu, o fagotista Adolfo de Almeida de Porto Alegre, os mineiros do grupo Madeirame, entre outros.